terça-feira, 29 de março de 2016

De volta para a realidade...




O que hoje indefinidamente é chamado de fé pela maioria das pessoas que participam de alguma denominação cristã, principalmente a Evangélica, não passa de crença superficial e misticista.

Isso porque, em geral, não há um anseio de se encarar a Verdade do Evangelho, que confronta a nossa verdade subjetiva, exigindo assim uma adequação pela sujeição ao controle, vontade e propósito divinos.
  
Muito pelo contrário: o que se busca são ações, palavras, modelos e rituais que teletransportem a pessoa para um outro mundo, onde o que se tem por objetivo, bem como somente o que se quer enxergar acerca das circunstâncias, é o que norteia e dá sentido a todo o modelo de vida praticado, de modo que a divindade se transforma num mero executor da vontade humana.

É como um usuário de drogas, que se entorpece para tentar não perceber as mazelas trágicas que circundam o seu meio, preferindo a fuga a enfrentar com intrepidez os desafios de sua realidade até que as soluções sejam encontradas, ainda que estas não se manifestem do modo como se consideraria o ideal pelo senso humano imediatista.
  
Assim, enquanto o Evangelho atua convocando o ser para o enfrentamento da realidade, por intermédio da fé, a crença religiosa e pseudo-espiritual o retira para um universo em que a prospecção especulativa é o elemento ilusório que lança a alma em um ciclo de engodo interminável, sempre fazendo com que se aguarde o momento em que aquilo que se almeja como determinante para a felicidade seja concretizado por seu eu/deus. É como caminhar rumo ao horizonte, tentando alcançar o que é inatingível. Por isso, a crença não passa de entorpecimento de consciência, sempre gerando uma expectativa que jamais será alcançada justamente pelo fato de que o próprio Deus não tem - nem nunca teve - nenhum compromisso com aquilo que esse tipo de alma egocêntrica almeja; mas que é incitado em seus seguidores pelo credo religioso.

A fé quebra de antemão qualquer pretensão de controle das situações imediatas, confiando todo o comando ao Deus soberano, que rege a tudo e todos, mesmo que Ele o faça de uma maneira que, por um ponto de vista humano e limitado, pareça doloroso e incoerente ao ser em quem se opera a Sua vontade; entretanto, este mesmo ser movido pela fé somente espera, em espírito de total submissão, certo de que os parâmetros do Eterno se baseiam naquilo que o limitado senso de quem é finito nesta existência não pode precisar com exatidão. Justiça, perfeição, amor, provisão etc, são virtudes e ações que somente podem ser conceituadas sob a perspectiva de quem é Absoluto, Infindável...
  
Desse modo, a Verdade absoluta de Deus, manifestada no ser humano por intermédio da fé, revela a verdade a respeito deste ser para que então ele se adéque aos desígnios da Sua Verdade. Em contraste a isso, a crença simplesmente tenta se utilizar dos preceitos da Verdade divina, deturpando-os a fim de que eles conspirem a seu favor, não se adequando às suas exigências, mas usurpando seus benefícios para o seu proveito sem permitir que ela aplique qualquer tipo de influência sobre a essência do eu de quem a segue; a "vontade de Deus" se torna o pretexto mais que conveniente para que se pleiteie implicitamente a vontade humana, pois, para um mero crente nesse sistema, aquela é totalmente confundida com esta.

Portanto, todo tipo de ritual, mover, mecanismo, enfim, qualquer coisa, que tente em si mesmo manipular um suposto poder, seja este a quem for atribuído, para o seu exercício de acordo com o querer de quem o utiliza, não passa de misticismo, magia ou bruxaria, não podendo jamais ser comparado com a pratica e a vivencia do Evangelho. Seu efeito é extremamente destrutivo para o discernimento da pessoa, escravizando seus praticantes inconscientemente em um ambiente religioso de aparência e eterna instabilidade espiritual.
  
No Evangelho, não há a pretensão de tentar manipular sua realidade ou de se refugiar naquilo que se quer acreditar. A Paz de Cristo se dá não pela comodidade ou sossego próprios de alguém que conquistou tudo o que almejava. Ela ocorre porque agora o propósito existencial foi plenamente encontrado no momento em que se cumpre unicamente a vontade de Deus, sabendo que tudo o que acontece é primeiramente para Sua glorificação e que a vida humana é simplesmente um instrumento para tanto.

Não existe mais qualquer interesse em alcançar os desejos de sua vontade, mas em cumprir bem o seu propósito - se tornando pleno enquanto ser que já não vive futilmente. Essa é a Paz que se opera no espírito de quem crê, de quem quer ser usado ao invés de querer ter alguma coisa.
  
Essa é a verdadeira fé, que leva a pessoa a transcender-se e não somente a se auto afirmar; que não manipula o mundo/meio em que se está por algum tipo de poder misticista; que transforma a sua percepção, de maneira que o Reino invisível de Deus poderá ser contemplado naquilo que não o era por causa dessa mudança de perspectiva.

Portanto, é isso que significa andar por fé e não por vista. Tudo o que saia disso não é Fé, não é Graça, não é Evangelho!
  
Obs: Exemplos de crença ilusória podem ser observados em todos os rituais que se utilizam da confissão positiva para reafirmar a vontade humana no indivíduo, e que se revestem dos mais diversos nomes como: rhema, o famoso "eu profetizo..." e "eu determino...", todo tipo de expectativa egocêntrica atualmente denominada de "promessa ou sonho de Deus", o movimento de "mover no Espírito" que apenas aflora o emocionalismo histérico, tornando a pessoa ainda mais refém de seus interesses e anulando qualquer tipo de discernimento, que se opera exclusivamente na consciência, dentre outros.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Embirrar é preciso!


A consciência política de um indivíduo revela o modo como ele reage às situações diárias de enfrentamento. Mostra o quão preparado está para, diante das adversidades, reagir de modo firme e sensato ou, como a grande maioria, se afugentar em alguma desculpa esfarrapada. 

É assim que observo, por exemplo, quando analiso a imaturidade que permeia a tomada de posicionamento em relação a determinado fato. O brasileiro, assim como uma criança mimada, só quer escolher entre o péssimo e o ótimo. Acha que a vida é simplista ao ponto de se resumir somente a essas duas opções, ignorando a complexidade da realidade que muitas vezes nos leva a ter que optar entre o péssimo e o ruim, a escolher o que seria "menos pior". 

O segundo turno das eleições demonstrou isso, pois quantas pessoas anularam seus votos porque o candidato que elas consideravam o ideal não conseguiu chegar até aquela fase do pleito. 

O momento político deste país também demonstra a mesma verdade: quanta gente prefere não tomar partido - e dar uma de "isentão" - se omitindo quando o Brasil mais necessita de transformações, com o argumento tosco de que as mudanças não restarão do jeito e da forma exata que o Embirrado desejara.  

O certo é que quando os que possuem algum discernimento não se posicionam, os tolos, então, têm terreno livre para conquistar, pois estes jamais abrem mão de realizar suas asneiras; enquanto os primeiros permanecem em uma crise de puberdade, batendo o pé indignadozinhos por não poderem escolher o que ou aquele que gostariam, os segundos, no auge de sua idiotice, não são tão exigentes e fazem questão de expor suas decisões estúpidas, impondo as consequências desastrosas de suas opções a todos enquanto se gabam muito mais pelo objeto de sua preferência do que por sua real eficácia.

Não é à toa, portanto, que as pessoas no dia a dia preferem adiar suas decisões, fugir de seus dilemas, nunca confrontar alguém ou a si mesmas, já que todas essas atitudes exigem do agente uma tomada de decisão na qual as opções não são as ideais, mas as reais.

Se não foi adquirida maturidade suficiente para gerenciar as adversidades cotidianas, é impossível esperar que se tenha o mínimo de sensatez na hora de exercer o civismo. Seria o mesmo que se achar um grande dançarino sem nem ainda ter aprendido a andar direito.

Assim, se esta Republiqueta continua, através das décadas, estagnada no tocante à qualidade de gestão, a pergunta é: quem são os culpados?! Tenho certeza que os isentos embirrados têm muito mais a prestar contas do que os ignorantes, pois já dizia o texto bíblico: "a quem mais é dado, mais será cobrado".