quinta-feira, 21 de julho de 2016

"Falar" não é "Saber"



Do mesmo modo que o Evangelho é dádiva, é boas novas, é bem aventurança para os pés de quem o anuncia, igualmente é juízo sobre todos os que, em seu nome, propagam falsidades.

Tudo que é exteriorizado como mensagem ou testemunho advém dos tesouros do coração, sejam estes bons ou maus.

Ainda, aquele que busca sabedoria e entendimento, peça-os em fé e manifeste-os principalmente por meio do bom trato e em mansidão.

Por isso, não é bom que existam muitos mestres; porque, além do maior juízo que lhes é atribuído, também se faz necessário que tenham um espírito virtuoso, desenvolvido pela prática do Amor, pra que se conheça todo o potencial destrutivo que as palavras e o mau testemunho possuem, gerando maior cautela e discernimento no momento da instrução.

Mestre, nesse contexto, não é somente aquele que carrega tal título, mas todos que de algum modo supõem  poder dar qualquer tipo de direcionamento a alguém. 

A vida tem me mostrado que os verdadeiros mestres geralmente são pessoas que sempre fugiram dessa competência, estando, por isso, mais resistentes às sutilezas da vaidade, que distanciam até mesmo o entendimento mais límpido da prática, distorcendo a sabedoria do que se considera - e justamente por se considerar - sábio.

É exatamente isso o que percebo nos religiosos dos tempos de Cristo. Vejamos, por exemplo, o texto de Lc 7, v43, no qual Simão, o fariseu, mesmo não honrando Jesus na prática, pois se omitiu propositalmente quanto à tradição de lavar os pés dos convidados, soube efetuar um bom julgamento para o desfecho da parábola relatada por Jesus.

Aquele Simão é como grande parte dos cristãos de hoje: interpele-os e você receberá como resposta palavras que contém uma pseudo sabedoria com aparência de piedade; entretanto, observe-os e você não verá nada além de omissão soberba, seletiva, que despreza os que, em seu arrogante conceito, não valem o esforço; fazem o que querem, na hora que entendem oportuna, de acordo com sua conveniência.

Ah, como isso tem sido a regra em nossos tempos; pessoas que decaíram da graça, apesar de supostamente a terem compreendido conceitualmente, pois se mostram absolutamente excêntricos ao Evangelho tão logo tenham a oportunidade de demonstrar em ações as virtudes das quais tanto "compreendem".

Esses acham que veem bem todas as coisas, exceto a própria inveja facciosa existente no mais profundo do ser; e exatamente por essa razão, na verdade, não podem enxergar nada, já que o bom discernimento é precedido pelo auto juízo realizado à luz da Verdade; portanto, o que elas enxergam não passa de ilusão, de lembrança imprecisa, tal qual o homem que se vê no espelho e logo se esquece dos detalhes de sua própria imagem.

Cegos condutores de outros cegos, ambos com os passos já destinados ao mesmo abismo; risonhos, fartos e ricos de conceitos, justiça própria e vaidades, que logo estarão em pranto, famintos e pobres, pois tudo aquilo não passou de presunção estúpida e fútil.

Assim, o que resta do Evangelho para grande parte dos que se intitulam "povo de Deus" é uma moralidade mórbida, superficial, perversa e hipócrita; não sabem sabendo; resistem à Verdade e aceitam desta o que lhes é útil; seus pés são ligeiros para manifestar os frutos da corrupção, da mentira, da dissimulação; suas motivações são totalmente peçonhentas; suas "sábias" palavras podem destruir até grandes multidões pelo fogo, tendo como fonte de seu poder destrutivo o próprio inferno.

Na Graça, tudo o que se sabe é o que se faz; se não se faz, não se sabe. A ação é a "prova de fogo". Por isso os puros assim são já que manifestam pureza; as árvores são boas já que seus frutos são bons; as fontes são doces, pois o manancial de água que delas procedem também é doce.

Retórica não quer dizer nada!

Desse modo, termino repetindo os conselhos de Tiago: "Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria" (Tg 3, v13).


 



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